sábado, 8 de outubro de 2011

A meta

   Na sacada de um prédio desconhecido a não ser pelos boatos que agora já comprovados que qualquer um com o mínimo de inteligência era capaz de enganar o porteiro para entrar no prédio, estava ele.
   Seu nome já não importa mais diante da atitude que ele estava prestes a tomar. Seu estado físico estava impecável como de costume, assim como seu estado mental também estava completamente embaralhado como de costume.
   Apesar do fato dele estar razoavelmente drogado, sua mente estava sã e sóbria. Ele já sabia que o uso de suas drogas chegaram a um tal ponto em que ela gera afeto e distúrbios apenas em seus sentimentos.
   "As drogas me dizem a verdade sobre A VERDADE do amor e da vida" - vivia ele dizendo isso a todos que o julgavam pelo seu uso excessivo de drogas. Porém, sempre desconfiei que ele usava isso como uma desculpa afim de obter um uso não descriminalizado.
   Ele sempre se julgou mais sábio que todos de sua época. E agora lá estava ele, sozinho ( como sempre preferiu ), drogado e livre de seus sentimentos que poderiam impedir o seu já quase alcançado objetivo.
   Ao subir na pequena grade da sacada, olhou para baixo, e teve a absoluta certeza de que estava a vinte andares de altura. Ele simplesmente ri ao invés de chorar ou ao menos ter uma postura digna de um suicídio. Ele ri porquê ao olhar para baixo, vista uma boa parte da cidade e das pessoas em movimento. Ele ri porquê assiste um notável mendigo na rua pedindo esmola. Ele ri, porquê ao seu conceito, não faz o menor sentido uma pessoa viver com uma forma de vida tão deplorável e desagradável.
   Ele já não acredita em Deus à um bom tempo, também não acredita em reencarnações e muito menos se preocupa com esses assuntos. Segundo ele, já tinha sabedoria o suficiente a ponto de descrever o ser humano. Segundo ele, já conhecia tudo e todos que habita esse planeta. "Como eu já imaginava" - Frase quase que infinitamente repetida por ele ao descobrir algo que ele nunca tenha visto, ouvido ou sentido, seja lá qual for essa coisa.
   Sem hesitar, ele joga seu corpo para frente e deixa que a gravidade termine seu trabalho. Ao cair, em queda, ele está relativamente ansioso em saber oque está prestes a desvendar sua única e última dúvida: A morte.
   Conclusão de sua meta: Vinte ossos quebrados ( por mera coincidência o mesmo número de andares que ele se jogou ), incontáveis partes de ossos fraturados, traumatismo craniano e somente um órgão perfurado:  O coração. No laudo, conta que estava excessivamente drogado.
   Sua família culpa a si mesmos, os amigos culpam as drogas.
   E ele ? Ele está morto.

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